Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



domingo, 27 de junho de 2010

Viagem ao Egito.

Máscara mortuária de Tutancamon - Museu do Egito - Cairo.
Diário de Viagem - Outubro de 1995.
A 16 estávamos saindo de Israel pelo aeroporto de Tel Aviv rumo ao Egito, formando um grupo de turismo de cerca de trinta pessoas, do qual partícipávamos minha mãe e eu. Nos hotéis meu companheiro de quarto foi o coronel Rolim, um senhor viúvo, aposentado do Exército, de setenta anos, pessoa fina, educada e de grande cultura. Digo com certeza que foi um privilégio privar com ele durante um mês das nossas visitas a Portugal, Israel, Egito, Turquia, Grécia e Itália. Infelizmente, ele faleceu cerca de um ano depois desta viagem. Minha esposa Sílvia não quis ir, pois se recusa terminantemente até hoje a entrar em um avião. Fica em pânico só de ouvir falar.
A revista no aeroporto de Ben Gurion foi muito detalhada, com aparelhos de detecção moderníssimos. Iam conosco alguns árabes com aquela túnica branca que lhes cobre todo o corpo e na cabeça o "fez", normalmente quadriculado. Portavam pastas executivas. Não pude deixar de sentir um certo medo. E se naquelas pastas houvesse alguma bomba, já que o avião era da El Al, empresa de aviação de Israel?
Deixávamos, afinal, a terra prometida por Deus aos hebreus errantes. (Sobre minha visita a Israel escreverei em futuros artigos). Nossa próxima etapa era o Cairo, capital do Egito, com suas pirâmides e a lembrança de seus faraós. Saíamos do Oriente Médio para entrar no norte da África.
Foi um voo tranquilo, de cerca de uma hora e meia. Estava anoitecendo quando chegamos ao Cairo. A vista da cidade do alto se revelava deslumbrante, com o grande rio Nilo cortando a planície desértica, somente verdejante perto de suas margens. Cidade enorme, que naquele ano contava com dezesseis milhões de habitantes. No aeroporto nos esperava um confortável ônibus que nos levaria ao hotel. Nas praças eram comuns enormes cartazes iluminados do presidente Mubarak. Os dirigentes árabes cuidam normalmente muito bem do culto às suas personalidades. O Egito, como qualquer país árabe, não é democrático, tanto que Mubarak governa até hoje.
Estávamos nos aproximando do hotel Fort Grand, um luxuoso cinco estrelas. Quando entramos na planície de Gizé, perante nossos olhos maravilhados apareceram as pirâmides e sua esfinge, iluminadas por clarões feéricos que projetavam seus contornos retilíneos na noite. Simplesmente piramidal. O hotel tinha na recepção cascatas com vários ambientes, lustres enormes de cristais, tapetes desenhados com motivos egípcios de outrora, enfim, tudo de um requinte que nos deslumbrava. Poltronas de veludo, mármores e granitos no ambiente decorado em ouro, e uma escadaria de mármore branco que levava ao piso superior, mais parecendo a entrada para o harém das Mil e uma noites.
Jantamos carne, frango, lula, além de saladas exóticas e frutas de todos os tipos, de tamanho maior que o normal. A melancia passava do verde da casca para um vermelho vivo, sem aquela polpa branca que se coloca entre as cores, de sabor bem doce e refrescante. O hotel ficava próximo das pirâmides, na planície de Gizé.
Na planície de Gizé a pirâmide do faraó Quéops, a maior das três, guardada pela Esfinge.
A população do Egito é muçulmana, porém de índole mais moderada. Não são fundamentalistas como o Irã do Lulla. Perto de cinco por cento são cristãos coptas, apenas tolerados. A moeda utilizada no Cairo é a libra egípcia, sendo os centavos chamados piastras.
Logo de manhã, fomos conhecer de perto as pirâmides. e a esfinge. Impressionantes! Feitas de blocos superpostos de pedras amareladas que se encaixam de forma admirável. Representam o que restou das sete maravilhas do mundo antigo.
As pedras foram retiradas de uma pedreira distante, nos diz o guia Tarik, a quarenta quilômetros do outro lado do Nilo. O transporte dos enormes blocos era feito por balsas na travessia do rio e em terra por troncos roliços de árvores, acima dos quais as pedras eram colocadas para que deslizassem, tendo a puxá-las com grossas cordas milhares de escravos. As pirâmides são os túmulos dos faraós, considerados divindades. As maiores e mais conhecidas são três: Quéops (cento e quarenta metros de altura), Quéfren (dez metros a menos) e Miquerinos (um pouco menor que a segunda); porém, existem muitas outras menores na planície. Algumas até superpostas, lembrando as construções dos astecas na América Central.
Adentrei na pirâmide de Miquerinos, descendo uma galeria de quarenta e cinco graus, a partir da porta de entrada, que é situada no meio da pirâmide e não na sua base. A altura da galeria era de cerca de um metro, o que nos obrigava a descer inclinados, quase de joelhos. Ambiente soturno, somente iluminado por luzes mortiças que eu não sabia de onde vinham. Calor enorme. Fomos dar numa sala vazia, pois os sarcófagos dos faraós ou estavam em museus na Europa, ou no museu do Cairo. Ali era o lugar do sarcófago de Miquerinos. Desci por uma outra galeria até uma sala menor, onde o calor se fazia quase insuportável. Era o local dos tesouros do faraó. Idosos e pessoas com problemas de saúde não podem entrar nas pirâmides. Estava agora na parte mais profunda da construção de Miquerinos. Comecei a ficar com medo que aqueles blocos, com mais de quatro mil anos de construção, desabassem sobre mim. Retirei-me apressado, fazendo, é claro, o percurso inverso. Foram bem poucos os que se aventuraram. Um claustrofóbico seguramente morrerá, se entrar ali.
Após, visitamos a Esfinge, enorme e magnífica com seu nariz quebrado. Por sinal, nada ali é bem conservado. Perdi infelizmente todas as fotos da planície, o filme queimado, sei lá, com exceção de uma foto que mostro abaixo. Tive que me contentar com os postais que comprei no local, parecendo até adivinhar o que aconteceria com a máquina.
Egípcios em frente às pirâmides nos seus camelos ajaezados.
Dispus-me a dar uma volta de camelo. Nativos vestidos a caráter, de feições morenas crestadas pelo sol, alugavam seus animais com arreios multicores. A cor predominante destes era o vermelho. Antes conversei com o guia Tarik. Ele me alertou que os rapazes eram mansos, mas procuravam sempre ser espertos e tirar algum dinheiro a mais dos turistas.
Entrei em contato com um deles num inglês macarrônico e acertei, usando gestos, um passeio de mais ou menos dez minutos, que me custaria um dólar. Subi em seguida no camelo, que se abaixou a um comando de seu dono, que portava na mão um látego fino e pequeno.
Que coisa mais desconfortável! Que animal desengonçado! Mas aguentei firme os dez minutos já sabendo que meus fundilhos iriam sentir, dando umas três voltas no local. O piso natural era somente areia e o camelo bastante alto. Mas calculei que poderia pular, se alguma coisa de ruim acontecesse.
O árabe logo tomou os arreios, pois o animal parou apenas viu ele se aproximar. Pedi, com gestos, para descer, mas o homem me olhou com um sorriso maroto e fez com o polegar e o indicador aquela esfregadela internacional que significa pedir mais dinheiro. Fiz com a cabeça um sinal negativo e enérgico e não dei mais bola para ele. Fiquei a olhar a planície. Havia gente em volta e eu podia até ver o meu ônibus. Não havia perigo físico, então. Era o que me parecia. Quando se está em terra alheia, e tão alheia quanto aquela, o melhor é não querer aparecer muito. Ele começou a ficar impaciente, remexeu-se, até mandar o camelo se inclinar com o pequeno chicote. Desci sem olhar para ele e fui para o ônibus. Meu namoro com as pirâmides terminara. Estava enjoado e com desconforto no traseiro. Mas que não paguei mais que um dólar, não paguei!
Esta foi a única foto que se salvou de minha visita ao Cairo. Eu e o camelo ao lado da estrada em asfalto, que o vento de vez em quando enche de areia.

A quarta pirâmide em tamanho recebe a denominação de pirâmide escalonada. Bem menor que as outras três. Além dela existem mais seis ou sete, todas pequenas. Note-se que são bem grandes, mas pequenas em relação às três famosas.
Ainda em Gizé, planicie enorme de areia na maior parte, existem locais que parecem oásis, com vegetação e palmeiras. Esta esfinge é a de Sakara, nome do lugar em volta dela.

Fomos em seguida ao Instituto Egípcio de Papiros, onde verificamos o processo de sua fabricação a partir de juncos muito verdes, de estrutura triangular, que crescem à beira do rio Nilo. Comprei duas gravuras pintadas em papiro, uma do faraó Ramsés II, que teve quarenta e duas esposas, sendo sua favorita a rainha Nefertiti (ou Nefretiri, ou Nefertari), mãe de seu primogênito morto quando as pragas mandadas pelo Deus de Israel, via Moisés, assolaram o Egito. A outra era uma gravura de um gavião, o deus da segurança e da guerra.


Busto dourado de Nefretiri, rainha do Egito, esposa de Ramsés II.

Almoçamos em um belo barco-restaurante ancorado no Nilo. Comida deliciosa e frutas variadas como sobremesa. As romãs eram enormes, mais parecendo melões. À tarde visitamos o Museu do Cairo. Contemplei impressionado o sarcófago do faraó Tutancamon, feito de peças folheadas a ouro. Sua múmia, muito bem conservada, tem os braços trançados e segura duas hastes douradas e curvas, símbolo do poder que exercia.

Disse-nos Tarik que era a única urna intacta. As outras, ou foram para museus na Europa, ou foram roubadas por salteadores locais, o que não fazia muita diferença. Tutancamon morreu com cerca de vinte anos, dizem alguns historiadores que envenenado por sua própria família. Também não é de estranhar, pois quando o poder é absoluto, tais desgraças costumam acontecer. Não vimos nenhuma referência honrosa a Cleópatra, para os egípcios considerada uma prostituta a soldo dos romanos. Voltamos ao hotel para um descanso em suas piscinas.

À noite fomos jantar num barco que navegava o rio Nilo. Mesas para seis pessoas, tudo com bastante luxo. Num tablado à frente um grupo musical de rapazes se apresentava. Quando cantavam aquelas músicas árabes características, com modulações constantes de voz, até que era bonito. Porém, quando quiseram imitar os Beatles, foi um desacerto. Logo em seguida saíram e apareceu uma moça muito bonita envolta em véus transparentes e multicoloridos. Ia fazer a dança do ventre. Contorcia-se toda ao soar de várias flautas, dançava até graciosamente, e o fez até tirar todos os véus que a cobriam. Ficou com uma espécie de biquini, mas com bastante roupa nos seios e nas partes pudendas. Perante a nudez da mulher brasileira nos carnavais, ela até podia parecer uma freira. Fomos ao convés, vendo a cidade passar rodeada de luzes perante nossos olhos maravilhados. As águas do Nilo deslizavam graciosas e em silêncio. Quando voltamos ao hotel, a madrugada começava.


Gisé. A grande Esfinge e a pirâmide de Quéops.


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