Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Anjo solidão!

Magnífico poema em prosa de Telma Lúcia Faria.
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Naquela manhã fresca de maio, quando o sol brilhava ainda tímido e os pássaros brincavam nos ramos frágeis das árvores, nada parecia estar fora do lugar. Havia uma sensação de sossego, dessas que sentimos tão raramente, como se tudo estivesse na mais completa harmonia.
A calma só foi quebrada quando ouvi o barulho daqueles pezinhos que amassavam as folhas secas.
Foi então que o avistei. Era pequeno, tão pequeno... Miúdo, me pareceu uma avezinha. Caminhava lentamente em minha direção e parou quando ficamos frente a frente. Seus grandes olhos tinham a mansidão de um lago e a boquinha era rosada, de contornos muito suaves.
Foi um instante infinito o encontro dos nossos olhos. Fui tomada por uma inquietação estranha, um pressentimento apertou-me o coração, tão fortemente que podia sentir suas batidas descompassadas.
"Tens algo para me fazer feliz? - perguntou com voz meiga.
Não respondi. Minha voz estava presa num turbilhão de dúvidas: quem seria ele? Por que havia feito tal pergunta? O que havia nos seus olhos que tocava tão fundo a minha alma?
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Ele insistiu: "Tens algo para me fazer feliz? - e sem esperar resposta, tomou minha mão e me conduziu até a sombra de uma árvore. Sentou-se no chão, olhou-me, sorriu, puxou-me para que também sentasse. Era lindo, a beleza transcendia o natural, num encantamento indescritível.
"Tens algo para me fazer feliz?"
Ele segurava minhas mãos e seus olhos magníficos não se desprendiam dos meus. Finalmente respondi: "Como posso te fazer feliz? Por que me fazes este pedido?"
Ele sorriu, o seu rosto iluminou-se numa luz áurea. "Só te peço o que podes me dar."
"Posso te dar felicidade? Mas... como, se não a possuo?"
Houve, por instantes, um silêncio imenso. Seus olhos começaram a transbordar, as lágrimas escorriam. Fui tomada por uma enorme aflição.
"Por que choras? Por favor, responde-me!"
Levantou-se devagar, beijou-me a face e tristemente respondeu:
"Irei chorar até que descubras que o que vim buscar está dentro de ti. Sei tudo o que habita no teu coração, pois eu também, há muito tempo, moro lá"
Começou a caminhar... e sumiu entre as árvores.
Não sei bem o motivo, mas desde então, nos dias chuvosos, quando as árvores ficam lavadas e muito verdes, como aqueles olhos, ouço sua voz no murmurar do vento:
"Tens algo para me fazer feliz? Tens algo para me fazer feliz?...
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Poetisa Telma Lúcia Faria, cadeira 25 da Asajol - Academia São José de Letras. Em pé o acadêmico Osni Antônio Machado, cadeira 37.
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Telma nasceu em Florianópolis aos 29 de dezembro de 1957. Estudou no Colégio Coração de Jesus, onde descobriu o seu gosto pela poesia, música, literatura e vocação para o magistério. Em 1979 formou-se em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem quatro títulos publicados: Corpo Submerso, Poetando, Ex corde e Anjo Solidão. Sua poesia apresenta a beleza de um coração solidário, receptivo aos mais puros sentimentos. É também titular da cadeira 29 da Academia de Letras de Biguaçu e da cadeira 8 da Academia Desterrense de Letras.
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Poeta.
Quando estancar em mim
esta corrente de dores
que se transformou
na própria circulação
que irriga feito sangue
meu coração magoado
não terei mais pecados
não serei mais errante
não buscarei mais sonhos
não escreverei mais versos
não permitirei mais dúvidas
não buscarei mais amores...
não serei mais poeta.
(Telma Lúcia Faria.)
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Igreja matriz do município catarinense de São João Batista.
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Pórtico de entrada (ou de saída) do município catarinense de Presidente Getúlio.
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Pousada Blumenthaus, no município catarinense de Petrolândia.
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As três fotos dos municípios catarinenses constam de http://www.valeeuropeu.com/
A foto dos acadêmicos Telma e Osni consta do Boletim Informativo Trinta Réis da Asajol (Set/Out-2009 - número 49).
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