Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Luiz Vaz de Camões.

Lisboa dos casarões antigos. A velha cidade dos fados de Amália Rodrigues, de tanto encanto e beleza. Berço do maior poeta português.
******************** Luiz Vaz de Camões (1525-1580). Perde a vista direita combatendo os mouros no Marrocos.
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As armas e os barões assinalados,
que da ocidental praia lusitana,
por mares nunca dantes navegados,
passaram ainda além da Taprobana,
em perigos e guerras esforçados
mais do que prometia a força humana,
e entre gente remota edificaram
novo Reino, que tanto sublimaram.
(Taprobana: ilha do Ceilão, limite do mundo oriental conhecido na época. Novo reino: império português na Ásia.)
Cessem do sábio grego e do troiano
as navegações grandes que fizeram;
cale-se de Alexandre e de Trajano
a fama das vitórias que tiveram.
Que eu canto o peito ilustre lusitano
a quem Netuno e Marte obedeceram.
Cessa tudo o que a antiga Musa canta,
que outro valor mais alto se alevanta.
(Sábio grego: Homero. Virgílio, o "troiano". Alexandre Magno e Trajano, generais que batalharam e venceram no oriente. Netuno (mares) e Marte (guerra), deuses gregos da mitologia.
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Eis a parte inicial da obra-prima de Luiz Vaz de Camões, Os Lusíadas, magistral poema em dez cantos que enaltece as vitórias e navegações portuguesas na África e na Ásia.
Os Lusíadas são heróis descendentes de Luso, um grande amigo do deus grego Baco. Esta maravilhosa epopéia canta os feitos portugueses além-mar. E tal foi feito com a mesma maestria dos poetas gregos da Antiguidade Clássica.
As armas (as tropas, o exército) e os barões ( a nobreza de el-rei) fizeram com que o império luso se aventurasse até os confins do mundo. As cruzadas contra os mouros, inimigos da fé, o comércio com as Índias e a China, a missão dos religiosos, a fidelidade ao rei, tudo isso compõe agora um novo canto.
Os Lusíadas, em dez cantos, inicia com o nascimento do reino lusitano, que vai se firmar perante a Europa por seus desbravadores e navegadores. Homens e deuses se confundem. A viagem de Vasco da Gama se sobressai nas rimas. Isso não impede que o grande vate critique o poder do dinheiro, a ambição desmedida e o fausto exagerado de alguns. Mas a corrente principal da obra é épica, com vitórias e louros.
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Luiz Vaz de Camões nasceu em Lisboa ou na região próxima em 1525. Era filho de Simão Vaz e de Ana de Sá.
O tio, dom Bento, abade de um claustro, possibilitou a Camões navegar na leitura e no conhecimento. Surge talvez daí o seu vasto cabedal literário clássico. Das letras ao convívio com fidalgos ilustres foi um passo. As primeiras experiências poéticas e amorosas sucedem em Coimbra, às margens do rio Mondego.

Muda-se, porém, para a Lisboa cheia de gente e vida, onde navios e navios se revesavam saindo e entrando pela foz do rio Tejo. E o seu lado boêmio aflora, com algumas aventuras e arruaças. Em 1550 Camões se alista para viajar às Índias. Mas acaba partindo para o porto marroquino de Ceuta. Aqui há dúvidas se foi ou não o poeta degredado em virtude de má conduta em Lisboa. Combatendo os mouros no Marrocos, perde a vista direita em 1949. Consegue retornar a Lisboa, onde fica preso por quase um ano, após briga com alto funcionário do palácio. Consegue a liberdade com o perdão do rei.

Parte para as Índias em 1553 a serviço da casa real portuguesa. Essas viagens lhe dariam todo o cabedal histórico necessário para o seu poema épico. Esteve também a serviço do rei em Macau, na China. Conhece ainda Moçambique, de onde consegue retornar a Lisboa à custa de amigos que lhe pagam a viagem. Na bagagem traz para sua terra Os Lusíadas, publicado em 1572. Com o feito, consegue do rei uma pensão anual que, embora pequena, lhe permite sobreviver. O grande poeta lusitano morre pobre em 1580 e uma entidade beneficente lhe custeia as exéquias.

Logo em seguida Portugal sofre o domínio da Espanha. O poema se agiganta como um dos fatores de resistência ao domínio indesejado e se torna mais ainda conhecido.

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Obras de Luiz Vaz de Camões:

Os Lusíadas - poema épico em dez cantos.
Líricas - redondilhas, éclogas, elegias, cantos, odes, sonetos.
Teatro - Três autos: Del Rei Seleuco, de Filodemo, e dos Enfatriões.
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Ao final deste trabalho apresentaremos um belo poema lírico, uma redondilha suave e maviosa do grande poeta. Esta forma de poema tem um mote (lema, tema, assunto) e algumas voltas (versos). Estes interpretam o mote e lhe dão melhor substância literária e poética. As redondilhas são comumente versos de cinco ou sete sílabas métricas (não confundir com as sílabas tônicas e átonas da gramática).
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Encarcerado em Lisboa por causa de uma briga com alto funcionário do Rei.
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Reconhecido pelo poema épico, o rei Dom Sebastião recebe o poeta e lhe concede um soldo anual para subsistência.
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Mausoléu de Camões em Lisboa, na Igreja de Santa Maria.
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MOTE
Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa e não segura.
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VOLTAS
Leva na cabeça o pote
O testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote.
Traz a vasquinha de cote
mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
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Descobre a touca a garganta
cabelos de ouro entrançado.
Fita de cor de encarnado,
tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
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Os versos apresentam Lianor, que descalça vai à fonte, bela, graciosa, fresca, leve. Redondilha singela, de beleza agreste e bucólica.
pela verdura - pelos campos.
fermosa - formosa.
não segura - solta, leve.
testo - a tampa do pote.
sainho - saia pequena.
chamalote - tecido de lã com mistura de seda.
vasquinha - saia usada sobre a roupa.
de cote - diária.
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Pesquisa:
Enciclopédia Trópico.
Literatura Comentada - Editora Abril.
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