Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sábado, 27 de novembro de 2010

O Romantismo na Literatura Brasileira.

Aprendi a gostar de Literatura com este poeta, lendo na adolescência a sua obra. Antônio Gonçalves Dias nasceu em 1823 no Maranhão. Em 1840 matricula-se na Universidade de Coimbra. Nesse tempo de estudante, escreve a famosa Canção do Exílio. Em 1846 passa a residir no Rio de Janeiro. Nomeado professor de Latim e História no Colégio Pedro II, passa a atuar na imprensa carioca. Em 1853 é nomeado oficial da Secretaria de Negócios Estrangeiros, o que o faz ir à Europa por duas vezes. Na última procura remédio para a saúde abalada. A 03 de novembro de 1864 morre no naufrágio do navio Ville de Boulogne, quando este se aproximava das costas do Maranhão, sepultando nas ondas o grande poeta. Tinha 41 anos.
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O ROMANTISMO:

I - A POESIA ROMÂNTICA.

Podemos dizer muito simplificadamente, que este estilo literário foi uma reação à estética tradicional e greco-romana do Classicismo. Utiliza a liberdade de inspiração e de forma, a imaginação, a simplicidade, o sentimentalismo, o subjetivismo e a religiosidade. A poesia romântica, chamada até um pouco sarcasticamente de "poesia dos soluços", aproveita os valores da natureza, da religião, do amor, da dúvida (ultra-romântica) e já apresenta um cunho social (mágoa, ceticismo, dilema alma-matéria). Os nomes mais destacados da Poesia Romântica seriam:
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01- Gonçalves de Magalhães. (Rio 1811-Roma 1882).
Na sua obra destacam-se "Suspiros poéticos e saudades" e "A confederação dos Tamoios".
Assim sou eu sobre a terra.
É minh'alma como a lira,
que morre quando não geme,
que vive quando suspira.
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02 - Gonçalves Dias:
Todos os seus dramas têm como fim a morte. Parecia ele pressentir a própria, quando no texto "Adeus aos amigos do Maranhão", cantava:
Porém, quando algum dia, o colorido
das vivas ilusões que inda conservo,
sem força esmorecer, e as tão viçosas
esp'ranças, que eu educo, se afundarem
em mar desenganos - a desgraça
do naufrágio da vida há de arrojar-me
à praia tão querida que ora deixo.
Tal parte o desterrado, um dia as vagas
hão de os seus restos rejeitar na praia
donde tão novo se partira e onde
procura a cinza fria achar jazigo.
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A vida é um fio negro d'amarguras
e de longo sofrer.
Semelha a noite, mas fagueiros sonhos
podem de noite haver.
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Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam
não gorjeiam como lá.
Não permita Deus que eu morra
sem que volte para lá.
Sem que desfrute os primores
que não encontro por cá.
Sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.
(Canção do Exílio).
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Sou bravo, sou forte,
sou filho do norte.
Meu canto de morte,
guerreiros, ouvi.
Sou filho das selvas,
nas selvas cresci.
Guerreiros, descendo
da tribo tupi.
(I-Juca-Pirama)
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Não chores, meu filho.
Não chores que a vida
é luta renhida.
Viver é lutar.
A vida é combate
que os fracos abate.
Que os fortes, os bravos
só pode exaltar.
(Canção do Tamoio).
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Olha, doutor, a poesia
é donzela melindrosa
que aborrece a malcheirosa
- a nojenta anatomia.
(Epigrama)
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O sol desponta
lá no horizonte,
doirando a fonte,
e o prado e o monte,
e o céu e o mar.
E um manto belo
de vivas cores
adorna as fores,
que entre os verdores
se vê brilhar.
(Tempestade)
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03 - Manuel Antônio ALVAREZ DE AZEVEDO.
(São Paulo 1831- Rio 1852). Morreu de tuberculose, o mal dos poetas do seu tempo, aos 21 anos.
Obras: Lira dos vinte anos (poema), A noite na taverna (contos), Conde Lopo (poema).
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Que sol, que céu azul, que doce n'alva,
acorda a natureza mais louçã.
Não me batera tanto amor no peito
se eu morresse amanhã.
Mas essa dor da vida que devora,
a ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
se eu morresse amanhã.
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04- CASIMIRO José Marques DE ABREU.
(Rio 1839- Rio 1860). A tuberculose lhe ceifa a vida aos 22 anos. Obra: Primaveras (magnífica), Camões e o Jau (composição dramática em verso apresentada em Lisboa).
Eu nasci além dos mares,
os meus lares,
meus amores ficam lá,
onde canta nos retiros,
seus suspiros,
suspiros o sabiá.
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Não amo a terra do exílio,
sou bom filho.
Quero a pátria, o meu país.
Quero a terra das mangueiras
e as palmeiras,
e as palmeiras tão gentis.
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Distante do solo amado,
desterrado,
a vida não é feliz.
Nessa eterna primavera
quem me dera,
quem me dera o meu país!
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Da pátria formosa distante e saudoso,
chorando e gemendo meu canto de dor,
eu guardo no peito a imagem querida
do mais verdadeiro, do mais santo amor.
Minha mãe!
Por isso eu agora na terra do exílio,
sentado, sozinho, co'a face na mão,
suspiro e soluço por quem me chamava:
Meu filho querido do meu coração.
Minha mãe!
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Mas se Deus cortar-me os dias
no meio das melodias,
dos sonhos da mocidade,
minha alma tranquila e pura,
à beira da sepultura,
sorrirá à eternidade!
(Primaveras - Lisboa).
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05 - Luiz Nicolau FAGUNDES VARELA.
(Rio 1841- Niterói 1875). Boêmio, morre aos 34 anos. Obras destacadas: Vozes da América, Cantos meridionais, Cantos Religiosos, Diário de Lázaro.
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Na torre estreita do pobre templo,
ressoa o sino da freguesia.
Abrem as flores, Vésper desponta,
cantam os anjos - Ave Maria!
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Na flor dos anos, conheci da vida
toda a ilusão.
Embora os homens meu porvir manchassem,
não os detesto, não!
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Oh, não me fales da glória,
não me fales da esperança.
Eu bem sei que são mentiras,
que se dissipam, criança.
Assim como a luz profliga
as sombras da imensidade,
o tempo desfaz em cinzas
os sonhos da mocidade.
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06 - Luiz José JUNQUEIRA FREIRE.
(Salvador 1832-1855). Nunca se afastou da sua Bahia. Entra na Ordem Beneditina, mas não se adapta e sai. Sempre franzino e doente, morre aos vinte e três anos de moléstia cardíaca.
Obra: Inspirações do claustro, Contradições poéticas.
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Iludimo-nos todos, concebemos
um paraíso eterno.
E quando nele sôfregos tocamos,
achamos um inferno!...
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Por minha face sinistra
meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
terrores ninguém lerá.
Não achei na terra amores
que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
a quem diga o meu adeus.
Não posso da vida à campa
transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
sem um ai de ansiedade.
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07 - LAURINDO José da Silva RABELO.
(Rio 1826-1864).
Perdeu o pai e o irmão, assassinados. A irmã enlouquece e lhe sobra a pobre mãe. Consegue se formar em Medicina e se torna médico no Exército. Ao falecer diz à esposa: Deixei de existir no dia em que morreu meu pai. É bom que eu morra antes, para te ensinar como se morre. Obra: Trovas, Poesias (edição póstuma).
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Nestes versos vos dou minha vida,
minha vida, mortais, é assim:
ante os homens um riso mentido,
longe deles um pranto sem fim.
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Ai, querido amor perfeito!
Como vivi satisfeito
quando te vi florescer.
Ai, não houve criatura,
no prazer e na ventura,
que me pudesse exceder!
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Vós, cujo canto tanto me encantava,
da madrugada alígeros orfeus,
uma nênia cantai-me ao fim da tarde.
Passarinhos, adeus!
Vamos. Adeus, ó mãe, irmã e amigos!
Adeus terra, adeus mares, adeus céus!
Adeus, que vou de viagem de finados.
Adeus... Adeus...Adeus!...
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08 - Antônio de CASTRO ALVES.
(Miritiba (Bahia) 1847 - Salvador 1871).
O poeta condor morreu aos 24 anos, de tuberculose. Três anos antes, numa caçada, disparou-lhe a arma um tiro no pé. O ferimento agravou-se e amputou a perna. Em desconsolo, logo morreria. Obra: Espumas flutuantes, A cachoeira de Paulo Afonso. Vozes d'África, Os escravos. Como se pode observar de sua obra, foi um bravo lutador contra a escravidão.
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Tem a relva, a trepadeira,
todas têm os seus amores.
Eu não tenho mãe nem filhos,
nem irmão, nem lar, nem flores...
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Quando à noite, o silêncio habita as matas,
a sepultura fala a sós com Deus...
Prende-se a voz na boca das cascatas,
e as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro, do escravo desgraçado
o sono agora mesmo começou.
Não lhe toques no leito de noivado.
Há pouco a liberdade o desposou.
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O ROMANCE ROMÂNTICO.

01 - JOSÉ Martiniano DE ALENCAR.
(Mecejana (Ceará)- 1829 - Rio 1877.)
No meu modesto conceito, ao lado de Machado de Assis, Alencar é o maior vulto do romance brasileiro. Foi deputado pelo Ceará e Ministro da Justiça. Candidato ao Senado, não foi aceito pelo imperador Pedro II, a quem criticara asperamente. Aos 48 anos vai à Europa em busca de saúde. Mas regressa para morrer no Brasil.
Obra: Romances de costumes: O tronco do Ipê, Senhora, Lucíola, Diva, Sonhos d'ouro, Til. Romances indigenistas: Iracema, Ubirajara, O Guarani. Ainda publica O sertanejo, As minas de Prata, O gaúcho, além de outros trabalhos.
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Início do romance Iracema:
Verdes mares bravios da minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba. Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias emsombradas de coqueiros...
Término do romance Iracema:
Iracema não se ergueu mais da rede onde a pousaram os aflitos braços de Martim. O doce lábio emudeceu para sempre, o último lampejo despediu-se dos olhos baços.
- Iracema!...
Desde então os guerreiros pitiguaras que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, afastavam-se com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. (E foi assim que veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio). A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro; mas não repetia já o mavioso nome de Iracema. Tudo passa sobre a terra.
(Os romances de Alencar conseguiam ser comparados, muitas vezes, com poemas em prosa).
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02 - Bernardo Guimarães.
(Ouro Preto 1825-1865).
Obra: O seminarista, O garimpeiro, O índio Afonso, Cantos da Solidão, Poesias.
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03 - Joaquim Manoel de Macedo.
(Rio 1820-1882).
Obra: A moreninha, O moço louro, O forasteiro, Rio do Quarto, A luneta mágica.
O romance "A moreninha" foi o mais lido do seu tempo.
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04 - Manoel Antônio de Almeida.
(Rio 1831-1861).
Obra: "Memórias de um Sargento de Milícias".
Morreu no mar do Rio de Janeiro, num naufrágio. Sua obra única é uma filmagem fiel da sociedade do seu tempo. Não teve preocupação com a forma. O senso do pitoresco, da realidade flagrante é que compensam a ausência de esmero artístico.
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