Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sábado, 10 de dezembro de 2011

Novamente o Holodomor.

Holocausto dos judeus: 6 milhões de mortos.
Holocausto dos ucranianos: 7 milhões de mortos.
Algum leitor poderia me responder por que o primeiro está todos os dias nas tevês e jornais, lembrado e relembrado, e o outro é olimpicamente ignorado por todos, seja a mídia, seja intelectuais, seja a universidade, seja o pueblo?...
Eis um depoimento estarrecedor do que é a FOME!
HOLODOMR. As homenagens oficiais e um depoimento estarrecedor.
Os quatro presidentes da Ucrânia.
Viktor Yushenko, ex-presidente da Ucrânia, foi a autoridade que procurou mostrar ao mundo o holocausto do seu povo..
A Igreja oficia o ato litúrgico.
Ex-presidentes acompanham o presidente, que é pró russos.
Encosta do Memorial Holodomor.
O DEPOIMENTO
"Sabíamos: se os porcos comem bolotas, a pessoa pode..."
Vysokui Zamok (Castelo Alto) 25.11.2011
Ivan Farian.
Entre aqueles, que na noite de sábado, 26 de novembro, acenderão uma vela e a colocarão na janela, em memória pelos mortos pelo Holodomor (morte pela fome) estará Rosália Pavlychak, 87 anos, da aldeia Zaklad, da região de Mykolaivka da Província de Lviv. Hoje ela é da Halychyna, mas na longínqua infância vivia em Vinnytsia, na pitoresca aldeia de Podil, Pavlivtsi, próximo do centro da região de Kalynivka. Lá ela sofreu todos os medos de homicídios intencionais, organizados pelo regime bolchevique. Passou muito tempo, mas os acontecimentos até agora continuam perante seus olhos...
Antes da coletivização senti-me como no seio de Deus...
No início vivíamos normalmente, seria pecado lamentar-se, - lembra Rosália Petrivna. - Mantínhamos uma vaca, porcos, galinhas, uma parelha de cavalos. Tínhamos na propriedade um grande cachorro, Sharyk. À noite nós o liberávamos, e ele obrigatoriamente, pela manhã trazia algo - ou um coelho, ou um pedaço de veado. Parte de seu troféu cabia a nós. Quando começou a grande fome, Sharyk com seu "ofício" muitas vezes nos socorreu...
Meu avô tinha uma pequena olaria, cinco "desiatynas" [1] de campo. Semeávamos centeio, trigo, aveia, painço e trigo sarraceno. Do campo nós nos alimentávamos, e também o gado e as aves. Além disso, tínhamos um capão de mato onde colhíamos muitos morangos e cogumelos. No quintal havia um grande celeiro - lembro quando traziam ali os feixes e com mangual os batiam. Sempre havia em nossa mesa pão, carne, ovos...
Mesmo que o grão apodreça, vocês não tem direito de levá-lo!"
Em 1928 começou a coletivização na aldeia. Quem possuía duas vacas, dois cavalos - metade devia entregar à fazenda coletiva. Assim aconteceu conosco. Ainda levaram toda terra. Quem possuía mais de 60 ar [2], era considerado "kurkul" (rico), arruinavam o aldeão completamente, desmontavam sua propriedade e levavam-no à Sibéria. Seus filhos eram jogados para fora de casa. Alguns, os parentes recolhiam, outros morriam de fome na rua.
Nosso vizinho Oliynyk tinha uma fabriqueta de óleo, graças a qual alimentava cinco pessoas. Devido ser considerado "kurkul" foi levado não soubemos para onde, para casa nunca mais voltou. A fabriqueta levaram para fazenda coletiva, as crianças tocaram de casa. Pessoas estranhas as recolheram. Em seguida, lembro, o filho mais velho dos Oliynyk, Teren, foi levado para o "front". Voltou ele da guerra cheio de medalhas. Encontrou a casa da família trancada à chave. Abriu-a, mas, de Kalenivksa veio a milícia e culpou-o de agir de acordo com sua própria vontade, contra o governo.
Em 1931 o inverno foi muito forte. Não havia alimento para o gado. As pessoas soltaram os cavalos dos celeiros - deixaram ir, talvez encontrem algo em algum lugar. Os pobres animais beliscavam de noite as barragens de folhas e ervas daninhas que as pessoas colocavam ao redor das casas para segurar o calor. As pessoas diziam: agora é o gado que anda faminto, em um ou dois anos nós também ficaremos... E assim aconteceu. Quando já não havia forças para suportar a fome, nosso pai pegou um cavalo extenuado, matou-o, arrancou a pele - e tínhamos o que comer.
As pessoas começaram recolher tudo o que elas ainda possuíam. Os "ativistas" entravam nas casas com longos raios de ferro e com eles percorriam todo o chão - para ver se havia algo guardado. Em nosso sótão estavam guardados saquinhos com sementes de feijão, papoula e linho. - foram levados. Eles colocavam em sacos, que eram colocados em carrinhos e transportados para fazendas coletivas. Lembro, à casa da Yuhyna Oliynyk entrou uma "komsomolka" [3] – trazia no peito uma flor vermelha artificial, na cabeça um lencinho. Mamãe disse: "Mulherzinha (sentido carinhoso), o que você procura -as crianças estão com fome..." As pessoas caíam de joelhos, para evitar problemas. Em resposta ouviam: "O diabo não vos levará!".
Começava a fome de 1932-1933. A colheita foi maravilhosa! Lembro, como hoje, eu com minha irmã fomos ao campo depois da colheita, recolher as espiguinhas. Veio, a galope, um guarda que brandiu o chicote gritando: "Molecas! Isto é propriedade do governo! Mesmo que apodreça, vocês não têm o direito de levá-lo!" Eu e minha irmã jogamos fora os saquinhos e saímos correndo. Corremos quatro quilômetros até chegar a nossa casa, mamãe ficou assustada quando nos viu...
Salvamo-nos com espinafre e azeda...[4]
Nosso pai trabalhava na estrada de ferro. Com uma vassourinha improvisada, varria entre as rachaduras nos vagões de sementes, que permaneciam lá após as descargas. Colocava as sementinhas nos bolsos, e em casa os esvaziava sobre a mesa. Nós, pequenos, de grão em grão escolhíamos, mamãe lavava, secava e moía na pedra - depois comíamos. Certa vez pegaram papai com aquelas sementes nos bolsos, misturadas com sujeira, e o levaram para a milícia. Pesaram a "propriedade do governo" - e condenaram meu pai a um ano de trabalhos forçados. Cumpria a pena nos campos, na província de Kyiv. Lá inchou de fome e resolveu fugir. Conseguiu chegar em casa, mas vieram buscá-lo e lhe deram um ano de prisão.
Sem o pai em casa a adversidade tornou-se negra. A primavera chegou, e assim que conseguiu subir a partir do solo o espinafre e a azeda nós arrancávamos e comíamos cru e cozido. Escaldávamos a urtiga. E, quando floresceu a acácia branca, eu, na ausência da mãe colhi, piquei e fiz bolinhos. Comemos, e nossas barrigas doeram tanto que pensamos não agüentar. Mamãe nos salvou com decocto de absinto e chás de camomila e orégano...
Em 1932-1933 pão nós não comemos. Vivemos principalmente comendo mato e ervas medicinais. Muito raramente uma batatinha.
Certa vez, com a irmã colhemos morangos e levamos à estação de Kalenivka para vender. Do nosso lado uma mulher negociava pequenos pedacinhos de pão. Quando o trem deu sinal de partida, os passageiros movimentaram-se, e, nesse momento um menino da aldeia vizinha, oito ou nove anos, aproximou-se, pegou um pedaço de pão e saiu correndo. A mulher pediu que eu cuidasse de sua banquinha e correu atrás do menino. Ele corria e colocava pão na boca para que não lhe tomassem. Conseguiu encher a boca - mas, de repente caiu. A mulher ainda arrancou de sua mão o pedacinho que restava, mas o menino morreu. As pessoas gritavam: "Especulante do diabo! Se ele não quisesse comer - não iria até você para roubar!"
Muito nos ajudavam as frutas silvestres, cogumelos. Colhíamos bolotas (também chamadas lande ou glande É o fruto do carvalho, do sobreiro, etc.) assávamos no forno, macerávamos no pilão. Sabíamos: se os porcos podiam comê-los e nada lhes acontecia - significava, que a pessoa também podia...
O pior era no início da primavera, quando o salgueiro renascia - dentro de casa não havia mais nenhum suprimento.
Vovó morreu de fome em 1932. E o vovô, depois que os bolcheviques levaram tudo da nossa casa, foi mendigar. A barba quase pela cintura, saco por cima do ombro - andava pelas aldeias, pedindo esmola. Alguém dava um pedaço de bolo, alguém jogava uma batatinha e alguém uma torradinha. Trazia as esmolas para nós. Quando não podia mais andar, ficava deitado no alto do forno, inchado como um cepo, e (como se eu estivesse vendo-o agora) pedia, por trás da chaminé à minha mãe: "Filha, me dê pelo menos uma vez, algo para eu colocar na boca. Eu já não vou atormentá-la por muito tempo..." E nós, sentadas na frente olhávamos o que mamãe poderia levar ao avô, se nada tínhamos em casa. Ela apenas enxugava as lágrimas. Vovô passou mais uma noite ou duas e morreu.
Lançavam ao túmulo semivivos.
Hoje, os comunistas dizem que a fome foi causada pela quebra da safra. Não é verdade! Eles destruíam as pessoas conscientemente. Eu sou testemunha ocular, eu não inventei nada. A desgraça era terrível. O governo bolchevique a ninguém ajudava, com nada. Pelo contrário...
Às vezes, você vinha andando - na rua jazia uma pessoa, estava nas últimas devido a fome. Os mortos eram recolhidos numa carroça, levavam ao cemitério. Nosso vizinho Kotsubytskyi levaram-no ainda vivo. Mamãe saiu na rua e gritou: "Aonde vocês o levam? - ele ainda respira!" E a ela respondem: Não faz mal - até chegarmos - morre!"[5].
No cemitério já estavam preparados grandes túmulos. Eram largos e fundos e recebiam 10-15 pessoas. Jogavam dois ou três cadáveres, um pouco de terra, e partiam em busca de outros. Às vezes acontecia que a terra sobre os cadáveres se movimentava. Ninguém fazia nada, nem os parentes porque não tinham forças para puxar os semimortos daquele buraco, e tinham medo. Se os bolcheviques aparecessem, dariam com um cabo na cabeça, jogariam no buraco e enterrariam.
E mesmo um pedaço de casca seca de pão eu acho delicioso
Pela primeira vez comi até saciar minha fome no início de julho de 1933. Quando no campo começaram formar-se as espiguinhas, tornaram-se durinhas - eu com a irmã íamos atrás deles no campo da fazenda coletiva. Voltávamos para casa com um feixe deles e os assávamos no fogo. As sementes ficavam castanhas. É uma delícia! - melhor não podia haver! Comíamos as sementinhas, bebíamos água - e já estávamos almoçadas!
Atualmente eu gosto de tudo. Mas gosto mais comer o pão. Como qualquer tipo - não menosprezo nada. Às vezes, quando começa criar bolor, recorto e, agradecida, como. Cada vez que pego em minhas mãos o pão, eu me lembro que houve um tempo, em que eu não tinha nem uma só migalha na minha boca.
[1] "dyciatyna" - antiga medida, corresponde a 1,09 hectare.
[2] Ar ou Arriv = 100m²
[3] Komsomol, nome da organização da juventude comunista; komsomolka é a moça que pertence ao Komsomol.
[4] Planta apreciada pelos eqüinos.
{5] Em ukrainiano há dois verbos que significam "morrer". O dominador russo sempre usou o mesmo que é usado aos animais, indicando assim o seu menosprezo pelo dominado. Pessoas educadas, pelo contrário, preferem usar, com referência aos animais, o mesmo que é usado com as pessoas.
Tradução: Oksana Kowaltschuk
Foto formatação: AOliynik
AOliynik
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Tenho até como missão, senhores, alertar a quem posso, com meus modestos recursos, sobre o perigo comunista, pois o estudei demais, como o maior câncer que grassou no século vinte, junto com outro tumor maligno chamado nazismo. Este, no entanto, já morreu. O abcesso vermelho continua vivo e atuante, pregado nas redações e nas universidades. Há que se alertar os incautos, os ignorantes, e mesmo os inocentes úteis, que pensam estar fazendo alguma coisa socialmente boa. Câncer maligno será sempre câncer maligno. Esta postagem é uma homenagem ao amigo Anatoli Oliynik.
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4 comentários:

  1. Estava a realizar alguns estudos sobre o racismo e eis as pérolas que encontrei:
    http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=cartas&subsecao=filosofia&artigo=20041019182250&lang=bra

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  2. Meu Dileto Amigo MENEZES:

    De coração e em nome do povo ucraniano, meus conterrâneos, os agradecimentos pela divulgação e esclarecimento aos seus leitores.

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