Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



terça-feira, 26 de junho de 2012

Contra toda a esperança XIV.



As experiências biológicas e suas vítimas.
Os que sabiam o que faziam e as consequências eram os psicólogos do departamento de avaliação psíquica da polícia política, diretores da mais ambiciosa e criminosa experiência da qual éramos cobaias e na qual as autoridades depositavam suas esperanças de nos dobrar e nos levar à aceitação da doutrina marxista, para a "reabilitação" política.
Se tanta violência física e psíquica não desse certo, a alternativa, talvez, seria nos assassinar. Eu não morri porque Martha me fez conhecido internacionalmente. Os homens de branco que nos entrevistavam eram corteses e amáveis. Mas isso não impediu que durante várias semanas colocassem nos alimentos quantidades excessivas de sal, tanto que ao comer nossa garganta ficava em brasa. Depois tiravam o sal completamente. Com esse sistema o metabolismo dos presos sofreu distúrbios, principalmente os que tinham problemas de pressão arterial e rins.
A ausência de proteína fez aparecer os sintomas de fome ou desnutrição. Primeiro inchavam os tornozelos e as pernas; depois as coxas, os testículos, o abdômen e o rosto. Eles observavam os casos dos que ficavam inflamados da cintura para cima. Os que corriam risco de morrer eram retirados e levados para um hospitalzinho cercado de grades. Não sabíamos mais deles. No hospital o preso era submetido a interrogatórios intermináveis. Já doente, era difícil resistir.
Lá faziam todo tipo de análise. Pesavam os alimentos, assim como os excrementos e urina. Depois administravam doses maciças de diuréticos. Os doentes mal podiam dormir, pois tinham que se levantar continuamente para urinar. Desinchávamos como balões de borracha. Um dos casos mais graves foi o de José Carreño. Ele era um intelectual e o que mais nos orientava para resistir. Ensinava-nos a respeito do marxismo e da ideologia posta em prática em nosso país. Depois de submetido ao tratamento já descrito, suas coxas incharam tanto, que ele teve que ser levado nu para o hospitalzinho. Quase não o reconheci, tão monstruosamente inchada estava a cara dele. Deram-lhe os diuréticos e ele quase perdeu 25 quilos de peso. Eu perdi nove quilos em cinco dias, com o mesmo processo. 
O propósito de nos transformar em farrapos ia sendo cumprido com meticuloso rigor. Éramos como que espectros, esqueléticos, como aqueles sobreviventes dos campos nazistas de concentração, depois de termos perdido treze, dezoito e até vinte e cinco quilos de peso.
A 07 de fevereiro de 1972 morria Ibrahim Torres, nosso querido Pire. Seu corpo não resistiu às experiências. Quando viram que o que faziam não adiantava muito, resolveram nos deixar em paz.
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Minha adorada Martha conseguira sair do país com seus pais. Ela daria a conhecer minha situação no estrangeiro, assim como a de todos os presos políticos. Talvez com isso conseguíssemos sensibilizar a opinião pública mundial para os horrores dos cárceres castristas. Tivemos que convencê-la que ela seria muito mais útil fora do que em Cuba. 
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