Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

LITERATURA DE CORDEL.


João Grilo


             A Literatura de Cordel, originalmente oral, é popular e tem origem nordestina. Os poetas colocavam suas produções em cordões, nas praças ou ruas, para que todos pudessem ler. Daí para as revistas, o sucesso foi um passo. Hoje fazemos varais literários, bem semelhantes.

Com os leitores uma história clássica de cordel: a de João Grilo. Foi tirada da coleção Literatura Comentada - Autores de Cordel - da Abril Educação, textos selecionados por Marlyse Meyer.
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Editor: João Martins de Athayde.
Autor: João Ferreira de Lima.
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No ano em que João nasceu
houve um eclipse da lua
e detonou um vulcão
que ainda continua.
Naquela noite correu
um lobisomem na rua.
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O pobre Grilo criou-se
pequeno, magro e sambudo,
as pernas tortas e finas,
a boca grande e beiçudo.
No sítio onde ele morava
dava notícia de tudo.
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Um dia a mãe de João Grilo
foi buscar água à tardinha.
Deixou o Grilo em casa,
que quando deu fé lá vinha
um padre pedindo água,
Coisa que ele não tinha.
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João disse: - Só tem garapa.
Disse o padre: Donde é?
João Grilo lhe respondeu:
É do Engenho Catolé.
Disse o padre: Pois eu quero.
João lhe levou a coité.
(coité: cabaça, cuia)
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O padre tomou e disse:
Oh, que garapa da boa!
João Grilo falou: - Quer mais?
O padre disse: - E a patroa
não brigará com você?
João falou: Tem canoa!
(Tem canoa: tem muita.)
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João trouxe outra coité
naquele mesmo momento.
Disse ao padre: - Beba mais,
não precisa acanhamento.
Na garapa tinha um rato
bem podre e bem fedorento.
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O padre gritou: - Menino,
tenha mais educação.
E por que não me disseste?
Oh natureza do cão!
O padre pegou a coité
e arrebentou-a no chão.
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João Grilo disse: - Danou-se.
misericórdia, São Bento!
Com isto a mamãe se dana,
me paga mil e quinhentos.
Essa coité, seu vigário
é da mamãe mijar dentro!
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O padre soltou um arroto,
disse para o sacristão:
Este menino é o diabo
em figura de cristão.
Meteu o dedo na goela,
quase vomita o pulmão.
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